sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Se você está hospedado em um velho hotel europeu, não olhe pelas janelas à noite

Quando eu terminei a faculdade, imediatamente comecei a trabalhar como genealogista. Basicamente, as pessoas me pagam para pesquisar a história da família delas. Eu pesquiso os nomes de seus ancestrais, as causas de suas mortes, e qualquer menção sobre eles nos jornais. Tenho feito isso por quase dez anos, e é algo no qual sou bom.

Algumas semanas atrás, uma viúva milionária me ligou pedindo por meus serviços. Aparentemente, os pais dela tinham emigrado da Suíça quando ela era jovem, mas ela não sabia muito sobre eles além de seus nomes e da cidade em que nasceram.

Raramente é preciso que eu viaje até o país em questão para fazer meu trabalho, mas, nesse caso, eu logo soube que seria necessário. Nenhuma das minhas fontes de sempre tinha alguma informação sobre a cidade que ela mencionara. Era um pequeno vilarejo no alto dos Alpes Suíços. Aparentemente, nenhum dos registros tinha sido digitalizado. Nenhuma das minhas rotas usuais funcionaram: batismos, nascimentos, certidões de óbito, tudo levava a nada. Falei à minha cliente que eu precisaria viajar para lá, e ela rapidamente concordou em providenciar a viagem para mim.

Cheguei ao país no início da tarde, peguei meu carro alugado, e imediatamente parti para as montanhas. Eu nunca tinha visitado a Suíça antes, mas foi espetacular. Vales encobertos pelas cordilheiras que os cercavam, tudo conectado por estradas sinuosas repletas de ziguezagues.

Dirigi até o alto das montanhas. Virei uma curva e segui diretamente para uma grossa cortina de névoa. A visibilidade imediatamente caiu para uns seis metros. Em estradas sinuosas, isso significa que você não consegue ver o início de uma curva até chegar nela. Penhascos íngremes se encontravam em ambos os lados, então, eu estava ansioso para sair logo da estrada.

Considerei a ideia de simplesmente parar no acostamento e dormir no carro. Eu estava procurando um lugar bom quando a névoa se dissipou um pouco. Eu virei uma curva e, para meu espanto, avistei um hotel na beira da estrada, no meio das montanhas. Letras vermelhas brilhantes cobriam a lateral, dizendo “Hotel Belvedere”. Havia um pequeno estacionamento com umas dez vagas do outro lado da estrada.


Estacionei meu carro e fui até o hotel para ver se poderia esperar durante a noite ali até a névoa desaparecer. O interior do hotel parecia velho, coberto por madeira tingida e ferro forjado. Um homem estava atrás da mesa na recepção, provavelmente tinha uns sessenta anos. Quando eu fechei a porta atrás de mim, ele lançou um olhar cansado na minha direção.

“Fala inglês?”, perguntei.

“Um pouco”, ele disse. “Quer um quarto?”

Assenti e ele continuou.

“Um quarto custa 125 francos. Tudo bem?”

Assenti novamente e puxei as notas da minha carteira.

O homem suspirou e levantou uma mão. “Você é o único hóspede aqui hoje à noite. Eu sou o dono do hotel, e não quero ficar aqui a noite toda. Se você ficar, está sozinho. Certo?”

Fiquei surpreso com isso, mas pensei que estaria tudo bem. O velho não queria passar a noite toda numa mesa esperando por hóspedes que nunca viriam. “Certo, tudo bem”, eu disse.

“Só uma coisa”, o homem falou. “Se você ficar, deve ficar no quarto com a porta trancada a noite toda. Certo?”

Imaginei que ele não queria que eu mexesse nas coisas do hotel, então concordei. Ele virou e pegou minha chave, uma chave de ferro forjado que parecia um objeto do século XIX. “Quarto 7”, ele disse. “Último andar.”

Me dirigi até meu quarto e entrei nele. Parecia algo de outro século, ostentando uma pia e copos dentro do quarto. Também havia uma varanda com uma vista incrível das estradas sinuosas pelas quais eu dirigira. A névoa já havia sumido em partes, então fui capaz de tirar esta foto:


Depois do sol se pôr, comecei a ficar bem agitado. Meu corpo ainda não estava pronto para pegar no sono por causa do fuso horário, então as horas se passaram, e de repente já era meia-noite. Eu deitei na cama, só olhando para o teto.

Não havia sinal de celular, e, claro, também não havia WiFi. Eu tinha visto o dono partindo com seu carro estrada abaixo, então eu sabia que estava sozinho no hotel. Portanto, fiz o que qualquer um faria nessa situação. Sai explorar o hotel. Gravei um vídeo fazendo isso.

O lugar era velho, como eu disse. Também havia todas as estranhas personalizações com as quais eu havia me acostumado crescendo na Europa. Andei pelo corredor até o quarto em frente ao meu, e tentei abrir a porta. Ela abriu facilmente.

O interior claramente não tinha sido limpo há anos. Uma camada de pó cobria cada superfície e teias de aranha decoravam os cantos do quarto. Eu estava usando a lanterna do meu celular para inspecionar as diferentes superfícies, e seu reflexo fazia as teias brilharem.

Andei até a janela e tirei um pouco do pó com o dedo, dando uma olhadinha pelo vidro. Esse lado do hotel estava de frente para as montanhas, ao contrário do meu quarto.

Uma lua cheia tinha surgido, então foi fácil ver as trinta figuras na estrada acima do hotel me olhando. Elas estavam espaçadas da mesma maneira, e cada uma carregava uma vela. Eu congelei, tentando enxergar melhor.

Todas as figuras estavam imóveis, todas encarando o hotel. Eu não conseguia ver seus olhos, mas estava claro pela linguagem corporal delas que estavam me vigiando. A maioria apenas segurava velas, mas percebi, com uma péssima sensação, que algumas seguravam foices e outros implementos metálicos em suas mãos. Eu rapidamente desliguei a lanterna do meu celular, e o quarto voltou à escuridão.

As figuras na estrada começaram a andar estrada abaixo, em direção ao hotel.

Eu saí da janela e corri para meu quarto, trancando a porta atrás de mim. Diversas possibilidades passaram por minha cabeça. Era alguma tradição suíça? Não fazia sentido. Por que as foices? Verifiquei meu celular de novo, e vi a hora 1:05 AM me encarando.

Talvez eles só fossem passar pelo hotel e se dirigir ao vilarejo. Talvez eles--

Um enorme estrondo ressoou pelo hotel enquanto a porta da frente se abria.

Minha boca estava seca e eu olhei todos os cantos do quarto procurando algo que pudesse ser usado como arma. Uma pesada xícara de vidro ao lado da pia era tudo que eu podia ver. Peguei ela com uma mão e me afastei da porta, me preparando para jogá-la.

Dezenas de passos atravessaram o corredor, parando bem na frente do meu quarto. A maçaneta girou, e vários punhos socaram a porta. Ainda assim, a fechadura não quebrou.

Fui até minha varanda correndo. Tentei me manter silencioso enquanto saltava dela para a varanda do quarto vizinho. Meus pés tocaram o metal no mesmo momento em que a porta do meu quarto arrebentou e se estilhaçou com um impacto.

Ouvi passos no meu quarto. O som da minha cama sendo virada. O som da minha mala sendo rasgada. O tempo todo, não ouvi uma palavra sequer ser proferida por algum deles.

Esperei por horas na varanda do outro quarto, esperando que não fossem verificar a minha. Ouvi o último deles sair, depois esperei ainda mais um pouco. Esperei até o céu se iluminar com o nascer do sol, e foi apenas nesse momento que voltei para meu quarto.

Ele fora saqueado. Minhas roupas tinham sido rasgadas, e meu laptop quebrado em dois.

Segui escada abaixo até meu carro (por sorte, eu tinha pego as chaves do meu carro antes de sair do quarto) e dirigi para longe dali por horas e horas. Quando finalmente cheguei na cidade, fiz algumas pesquisas.

O website que encontrei dizia que o Hotel Belvedere estava fechado há anos.

Escrito por Worchester_St. Confira o original.