Algumas semanas atrás, uma viúva milionária me ligou
pedindo por meus serviços. Aparentemente, os pais dela tinham emigrado da Suíça
quando ela era jovem, mas ela não sabia muito sobre eles além de seus nomes e
da cidade em que nasceram.
Raramente é preciso que eu viaje até o país em
questão para fazer meu trabalho, mas, nesse caso, eu logo soube que seria necessário.
Nenhuma das minhas fontes de sempre tinha alguma informação sobre a cidade que
ela mencionara. Era um pequeno vilarejo no alto dos Alpes Suíços.
Aparentemente, nenhum dos registros tinha sido digitalizado. Nenhuma das minhas
rotas usuais funcionaram: batismos, nascimentos, certidões de óbito, tudo
levava a nada. Falei à minha cliente que eu precisaria viajar para lá, e ela
rapidamente concordou em providenciar a viagem para mim.
Cheguei ao país no início da tarde, peguei meu carro
alugado, e imediatamente parti para as montanhas. Eu nunca tinha visitado a
Suíça antes, mas foi espetacular. Vales encobertos pelas cordilheiras que os
cercavam, tudo conectado por estradas sinuosas repletas de ziguezagues.
Dirigi até o alto das montanhas. Virei uma curva e segui
diretamente para uma grossa cortina de névoa. A visibilidade imediatamente caiu
para uns seis metros. Em estradas sinuosas, isso significa que você não
consegue ver o início de uma curva até chegar nela. Penhascos íngremes se
encontravam em ambos os lados, então, eu estava ansioso para sair logo da
estrada.
Considerei a ideia de simplesmente parar no acostamento
e dormir no carro. Eu estava procurando um lugar bom quando a névoa se dissipou
um pouco. Eu virei uma curva e, para meu espanto, avistei um hotel na beira da
estrada, no meio das montanhas. Letras vermelhas brilhantes cobriam a lateral,
dizendo “Hotel Belvedere”. Havia um pequeno estacionamento com umas dez vagas
do outro lado da estrada.
Estacionei meu carro e fui até o hotel para ver se
poderia esperar durante a noite ali até a névoa desaparecer. O interior do
hotel parecia velho, coberto por madeira tingida e ferro forjado. Um homem
estava atrás da mesa na recepção, provavelmente tinha uns sessenta anos. Quando
eu fechei a porta atrás de mim, ele lançou um olhar cansado na minha direção.
“Fala inglês?”, perguntei.
“Um pouco”, ele disse. “Quer um quarto?”
Assenti e ele continuou.
“Um quarto custa 125 francos. Tudo bem?”
Assenti novamente e puxei as notas da minha
carteira.
O homem suspirou e levantou uma mão. “Você é o único
hóspede aqui hoje à noite. Eu sou o dono do hotel, e não quero ficar aqui a
noite toda. Se você ficar, está sozinho. Certo?”
Fiquei surpreso com isso, mas pensei que estaria
tudo bem. O velho não queria passar a noite toda numa mesa esperando por
hóspedes que nunca viriam. “Certo, tudo bem”, eu disse.
“Só uma coisa”, o homem falou. “Se você ficar, deve
ficar no quarto com a porta trancada a noite toda. Certo?”
Imaginei que ele não queria que eu mexesse nas
coisas do hotel, então concordei. Ele virou e pegou minha chave, uma chave de
ferro forjado que parecia um objeto do século XIX. “Quarto 7”, ele disse. “Último
andar.”
Me dirigi até meu quarto e entrei nele. Parecia algo
de outro século, ostentando uma pia e copos dentro do quarto. Também havia uma
varanda com uma vista incrível das estradas sinuosas pelas quais eu dirigira. A
névoa já havia sumido em partes, então fui capaz de tirar esta foto:
Depois do sol se pôr, comecei a ficar bem agitado.
Meu corpo ainda não estava pronto para pegar no sono por causa do fuso horário,
então as horas se passaram, e de repente já era meia-noite. Eu deitei na cama,
só olhando para o teto.
Não havia sinal de celular, e, claro, também não
havia WiFi. Eu tinha visto o dono partindo com seu carro estrada abaixo, então
eu sabia que estava sozinho no hotel. Portanto, fiz o que qualquer um faria
nessa situação. Sai explorar o hotel. Gravei um vídeo fazendo isso.
O lugar era velho, como eu disse. Também havia todas
as estranhas personalizações com as quais eu havia me acostumado crescendo na
Europa. Andei pelo corredor até o quarto em frente ao meu, e tentei abrir a
porta. Ela abriu facilmente.
O interior claramente não tinha sido limpo há anos.
Uma camada de pó cobria cada superfície e teias de aranha decoravam os cantos
do quarto. Eu estava usando a lanterna do meu celular para inspecionar as
diferentes superfícies, e seu reflexo fazia as teias brilharem.
Andei até a janela e tirei um pouco do pó com o
dedo, dando uma olhadinha pelo vidro. Esse lado do hotel estava de frente para
as montanhas, ao contrário do meu quarto.
Uma lua cheia tinha surgido, então foi fácil ver as
trinta figuras na estrada acima do hotel me olhando. Elas estavam espaçadas da
mesma maneira, e cada uma carregava uma vela. Eu congelei, tentando enxergar
melhor.
Todas as figuras estavam imóveis, todas encarando o
hotel. Eu não conseguia ver seus olhos, mas estava claro pela linguagem
corporal delas que estavam me vigiando. A maioria apenas segurava velas, mas
percebi, com uma péssima sensação, que algumas seguravam foices e outros
implementos metálicos em suas mãos. Eu rapidamente desliguei a lanterna do meu
celular, e o quarto voltou à escuridão.
As figuras na estrada começaram a andar estrada
abaixo, em direção ao hotel.
Eu saí da janela e corri para meu quarto, trancando
a porta atrás de mim. Diversas possibilidades passaram por minha cabeça. Era
alguma tradição suíça? Não fazia sentido. Por que as foices? Verifiquei meu
celular de novo, e vi a hora 1:05 AM me encarando.
Talvez eles só fossem passar pelo hotel e se dirigir
ao vilarejo. Talvez eles--
Um enorme estrondo ressoou pelo hotel enquanto a
porta da frente se abria.
Minha boca estava seca e eu olhei todos os cantos do
quarto procurando algo que pudesse ser usado como arma. Uma pesada xícara de
vidro ao lado da pia era tudo que eu podia ver. Peguei ela com uma mão e me afastei
da porta, me preparando para jogá-la.
Dezenas de passos atravessaram o corredor, parando
bem na frente do meu quarto. A maçaneta girou, e vários punhos socaram a porta.
Ainda assim, a fechadura não quebrou.
Fui até minha varanda correndo. Tentei me manter
silencioso enquanto saltava dela para a varanda do quarto vizinho. Meus pés
tocaram o metal no mesmo momento em que a porta do meu quarto arrebentou e se
estilhaçou com um impacto.
Ouvi passos no meu quarto. O som da minha cama sendo
virada. O som da minha mala sendo rasgada. O tempo todo, não ouvi uma palavra
sequer ser proferida por algum deles.
Esperei por horas na varanda do outro quarto,
esperando que não fossem verificar a minha. Ouvi o último deles sair, depois
esperei ainda mais um pouco. Esperei até o céu se iluminar com o nascer do sol,
e foi apenas nesse momento que voltei para meu quarto.
Ele fora saqueado. Minhas roupas tinham sido
rasgadas, e meu laptop quebrado em dois.
Segui escada abaixo até meu carro (por sorte, eu
tinha pego as chaves do meu carro antes de sair do quarto) e dirigi para longe
dali por horas e horas. Quando finalmente cheguei na cidade, fiz algumas
pesquisas.
O website que encontrei dizia que o Hotel Belvedere
estava fechado há anos.
Escrito por Worchester_St. Confira o original.