domingo, 5 de julho de 2020

Navegação Expandida para RPGs


Se você está planejando alguma campanha ou aventura com temáticas náuticas, ou quer inserir o elemento de navegação marítima em algum ponto de sua história, o suplemento a seguir pode fornecer excelentes ideias para incrementar suas sessões de RPG.


Tradução do suplemento original Expanded Sailing v1.1

Embora focado na 5ª Edição de D&D, é possível adaptar as ideias citadas no suplemento para praticamente qualquer sistema.

sábado, 27 de junho de 2020

Vampiro A Máscara - Sabbat Bloody Sabbat [sessão 2]

Neste fim de semana, nosso grupo continuou a campanha de Vampiro A Máscara, Sabbat Bloody Sabbat. Confira o que aconteceu até agora no post da sessão 1.

Os personagens são três vampiros da Camarilla, dois deles habitantes da cidade de Concórdia, no interior de Santa Catarina, e uma delas de outra cidade da região, e um humano, que tem um envolvimento com uma das vampiras, apesar de só descobrir durante o jogo que ela é, de fato, uma vampira.

PERSONAGENS
  • Umbra: uma vampira malkaviana que atua como psiquiatra na cidade de Caçador, Santa Catarina. Ela vive lá há anos, pacificamente, atendendo em seu consultório particular apenas com horários noturnos. Porém, sua cidade foi uma das atingidas por uma tribo do Sabbat que invadiu a região e está matando um a um os vampiros. Ela sobrevive ao incidente e consegue fugir para tentar alertar os outros vampiros antes que seja tarde demais;
  • Lucinda Lust: uma vampira toreadora que foi enviada a cidade de Concórdia como uma espécie de estabelecimento do seu clã na região, a mando de seu mentor. Ela trabalha como prostituta de luxo para se manter, mas seu objetivo é observar as atividades do príncipe e desbancá-lo quando a oportunidade surgir;
  • Anael Hannah: um vampiro gangrel que vive desde quando era humano na região de Concórdia, e sempre viveu ali, vendo a cidade nascer e crescer ao seu redor. Tem uma relação muito forte com sua mentora e criadora, e vive sozinho no mato perto de uma das indústrias da cidade, onde consegue seu "alimento" noturno;
  • William Weimer: um humano com um passado sombrio que envolve muitas mentiras e sofrimento, mas também um grande história de superação e crescimento na vida, apesar das adversidades. William hoje é um chefe do tráfico na região, cheio de capangas, dinheiro e influência. Também é um cliente recorrente de Lust, e possui sentimentos inexplicáveis por ela.
A HISTÓRIA

Após os eventos da noite passada, e com o Sabbat já tendo partido da cidade, o grupo consegue finalmente esfriar a cabeça e discutir a situação em que se encontram.

Juntamente com o documento oficial da Camarilla que o Sabbat entregou ao grupo, está um intrigante mapa que aponta para um ponto icônico da cidade, o chafariz da praça central. Não apenas isso, também consta a misteriosa inscrição "O Suspirante" sobre o local no mapa. Decididos a investigar essa situação na noite seguinte, o grupo volta ao apartamento de Lust para descansar.

William é o primeiro a acordar por volta do meio-dia. Ele logo se depara com várias mensagens desesperadas de sua mãe e seus irmãos, pois todos viram diversas notícias sobre 13 homens encontrados mortos no bairro onde moram. William mente que não tem nada a ver com isso, e garante a ela que está num local seguro.

Quando o sol se põe, os vampiros acordam. Lust se depara com ligações e mensagens de seu mentor, Semion. Ela retorna a ligação, e ele a avisa sobre situações com que tem se deparado praticamente do outro lado do mundo: locais onde os Tremere lideram estão sofrendo extermínio de vampiros e desaparecimentos, de maneiras inexplicáveis. Lust avisa que o mesmo está acontecendo na sua região, e conta basicamente tudo que aconteceu até o momento, exceto sobre o envolvimento do humano. Semion a alerta para que não contate a Camarilla, e que aguarde ele falar com outros companheiros do clã que estão mais perto dela e que podem oferecer ajuda.

Anael recebe contato de sua mentora, Hannah, que avisa que ficou preocupada quando ele tentou contatá-la na noite passada. Anael conta o que aconteceu, e Hannah promete que irá se deslocar o mais rápido que puder para chegar ali até o final da noite.

Todos saem para se alimentar, exceto Lust, que utiliza o próprio William para o ato. Anael é o mais rápido, e decide esperar lá fora, já que logo depois irão ver o chafariz. Enquanto espera, Anael percebe alguém o espiando em alguns arbustos ali perto. Ele espera os outros chegarem para avisá-los. Quando Anael tenta se aproximar, o indivíduo corre desesperado. Anael persegue e alcança o alvo, imobilizando-o até os outros chegarem. Ele se revela ser um lacaio Tremere enviado pelo príncipe para espiá-los, e o grupo o leva de volta ao apartamento.

O vampiro capturado implora a misericórdia do grupo, pois ficou sabendo que mataram todos do Sabbat. O grupo se aproveita da mentira que chegou aos ouvidos do Tremere e ameaçam-no para que conte informações sobre o que está havendo. Ele apenas fala que o príncipe está matando outros vampiros para algum propósito próprio, mas que apenas ele e suas crias sabem, os outros apenas estão obedecendo suas ordens.

Prometendo voltar ao príncipe e contar a ele que não tinha visto nada, o tremere é liberado pelo grupo, que agora parte para a praça da cidade verificar o chafariz.

Chegando no local, Anael é capaz de ver uma parte do chafariz, embaixo da água, que parece móvel. Como ele não tem muita afinidade com água, Umbra, nua, decide entrar no chafariz e verificar o que é aquilo. Ela tenta mover a pedra, mas sem sucesso.

Lust vê um homem bêbado deitado ali perto. A única pessoa nas redondezas naquele horário. Ela se aproxima, e pergunta se ele sabe de algo. O homem, alterado, apenas diz que eles devem retornar quando a lua estiver cheia. A lua cheia começa na noite seguinte.

O grupo, então, prefere ir até o bairro de William esconder suas drogas e armas, pois imaginam que a polícia estará rondando o local devido ao crime que suspeitam ter acontecido. Chegando lá, se aproveitam de um morro que começa nos fundos da casa de William e escondem tudo nas copas das árvores. Depois voltam para o apartamento de Lust para descansar.

Quando chegam ao apartamento, Anael já está bastante preocupado, pois Hannah não chegou e o sol está quase nascendo. Ele tenta contatá-la, mas não consegue absolutamente nada de volta. Quando Lust adentra seu quarto, vê um corvo morto no chão, com uma flecha perfurando seu corpo de um lado ao outro. Na ponta da flecha, há uma carta: o príncipe os convoca para comparecer em seu antro na noite seguinte, ou as consequências serão ruins para o grupo. Ele enfatiza que devem levar o humano junto.

O grupo volta a ação na noite seguinte, decidindo verificar o chafariz antes de ir até o antro do príncipe em Chapecó. A lua cheia, de fato, revela escrituras estranhas, provavelmente uma antiga língua vampírica, que Umbra reconhece devido a seus estudos sobre A Fome, mas que não consegue decifrar o que está escrito.

Recorrendo a uma medida mais drástica, eles pegam explosivos, que William mantém escondido em sua casa, e que agora estão no morro onde esconderam as coisas, e decidem abrir o local à força. Como não há ninguém ali por perto, o plano é bem sucedido.

Após a explosão, o que se revela é uma passagem escura, um corredor que leva a uma parte inferior oculta há muito tempo abaixo da cidade. Andando com cuidado pelo local, encontram uma sala, onde um vampiro está morto, junto a vários livros e diários, estes últimos aparentemente escritos por ele desde 80 anos atrás.

Umbra é a primeira a tentar ler algo, e se depara com várias frases que, embora inofensivas para qualquer outro vampiro, a incomodam mentalmente devido ao seu passado conturbado. Quase que imediatamente, o grupo se depara com A Besta de Umbra na sua frente.

Apenas quando William dá um tiro em sua perna, Umbra lembra da dor, e como essa sensação ainda significa sua materialidade e inferioridade, e consegue recobrar sua forma vampírica normal, embora desmaie logo em seguida. Os vampiros dão sangue a ela, e, com a consciência recobrada, ela fica aliviada por não ter causado mal a ninguém ali, embora fique assustada por ainda não entender o que desencadeia o surgimento do monstro dentro de si.

Lust lê o mesmo diário que Umbra, e descobre que o vampiro está ali, realmente, há praticamente 80 anos, e percebe que estava enlouquecendo, embora as razões disso não fiquem claras apenas após essa leitura rasa. Decididos a estudar melhor a questão, eles jogam os livros no carro e partem para Chapecó.

Chegando ao antro do príncipe Theodor, se deparam com um depósito que deve funcionar normalmente durante o dia, mas que, à noite, se revela a morada subterrânea do clã Tremere da região. O guarda os deixa entrar, já avisado de sua chegada, e eles saem do carro em direção a uma entrada que leva a um nível inferior do depósito.

Após descer as escadas, chegam a um belo salão, com uma arquitetura greco-romana, e com estátuas dos deuses Hermes e Mercúrio cuidadosamente espalhadas pelo corredor que leva à cadeira onde Theodor está sentado, rodeado pelo que provavelmente são suas quatro crias.

O príncipe força o grupo a entregar primeiro o documento comprometedor que possuem. Como o grupo hesita, a princípio, Theodor mostra a eles que Hannah foi capturada. Anael enlouquece ao ver a cena de sua mentora humilhada daquela forma, e sua Besta também vem à tona, embora o príncipe, como num passe de mágica, apenas traçando alguns símbolos no ar, faça-o voltar ao normal. Quando o gangrel acordar depois, perceberá que ganhou uma cauda permanente.

Theodor diz ao grupo que eles devem dar um jeito de eliminar o Sabbat, e que, caso façam isso, ele ajudará a todos. A Anael devolverá sua mentora, a Lust dará uma posição de poder, e também auxiliará Umbra com seus estudos sobre A Fome. E também não revelará a ninguém sobre eles terem quebrado A Máscara. Claro que eles também devem permanecer em silêncio sobre tudo o que sabem dos eventos que têm acontecido, e aos quais foram indesejados sobreviventes.

O grupo se vê forçado a devolver o documento, a prova que tinham em mãos, ao príncipe. E este os libera, deixando-os à vontade para desempenhar a missão a qual lhes foi dada, deixando claro que, se fugirem ou tentarem enganá-lo de alguma forma, enfrentarão as consequências.

Os vampiros e William se encontram agora num dilema ainda pior do que aquele que tinham apenas duas noites atrás. Devem fazer aquilo que o Sabbat os ordenou, de modo a não sofrerem a morte pela mão dos seguidores fanáticos de Cain? Ou devem obedecer um príncipe que não poupou esforços em matar todos os que não pertenciam a seu clã, e apenas os está mantendo vivo para que façam o trabalho sujo para ele?

Qualquer que seja a resposta para o imenso problema que têm diante de si, todos estão cientes que qualquer lado que agradem, nada poderá garantir sua sobrevivência. E agora, faltam 28 noites para a volta do Sabbat.

Fim da sessão


domingo, 24 de maio de 2020

Vampiro A Máscara - Sabbat Bloody Sabbat [sessão 1]


Neste sábado, nosso grupo jogou a primeira sessão de uma campanha de Vampiro A Máscara, intitulada Sabbat Bloody Sabbat.

Os personagens são três vampiros da Camarilla, dois deles habitantes da cidade de Concórdia, no interior de Santa Catarina, e uma delas de outra cidade da região, e um humano, que tem um envolvimento com uma das vampiras, apesar de só descobrir durante o jogo que ela é, de fato, uma vampira.

PERSONAGENS
  • Umbra: uma vampira malkaviana que atua como psiquiatra na cidade de Caçador, Santa Catarina. Ela vive lá há anos, pacificamente, atendendo em seu consultório particular apenas com horários noturnos. Porém, sua cidade foi uma das atingidas por uma tribo do Sabbat que invadiu a região e está matando um a um os vampiros. Ela sobrevive ao incidente e consegue fugir para tentar alertar os outros vampiros antes que seja tarde demais;
  • Lucinda Lust: uma vampira toreadora que foi enviada a cidade de Concórdia como uma espécie de estabelecimento do seu clã na região, a mando de seu mentor. Ela trabalha como prostituta de luxo para se manter, mas seu objetivo é observar as atividades do príncipe e desbancá-lo quando a oportunidade surgir;
  • Anael Hannah: um vampiro gangrel que vive desde quando era humano na região de Concórdia, e sempre viveu ali, vendo a cidade nascer e crescer ao seu redor. Tem uma relação muito forte com sua mentora e criadora, e vive sozinho no mato perto de uma das indústrias da cidade, onde consegue seu "alimento" noturno;
  • William Weimer: um humano com um passado sombrio que envolve muitas mentiras e sofrimento, mas também um grande história de superação e crescimento na vida, apesar das adversidades. William hoje é um chefe do tráfico na região, cheio de capangas, dinheiro e influência. Também é um cliente recorrente de Lust, e possui sentimentos inexplicáveis por ela.
A HISTÓRIA

17 de Abril de 2020

O jogo começa numa pequena cidade do oeste catarinense, Lindóia do Sul. Em meio a um milharal, por volta das onze horas da noite, sob uma forte tempestade, a vampira Umbra corre. Sua mente desvia das suas maiores preocupações para assuntos supérfluos e irrelevantes enquanto ela percorre a fazenda. Há poucos dias, sua cidade foi invadida, sem nenhuma razão aparente, por um grupo de vampiros do Sabbat, que matou todos os outros vampiros que lá viviam. Tentaram também matá-la, mas, por uma razão que ela lembra apenas vagamente, e que envolve sua Besta interior, ela conseguiu escapar, e acabou matando um dos Sabbat no processo.

Após sua fuga, Umbra tentou avisar os vampiros das outras cidades próximas sobre o perigo, pois ouviu que eles iriam atrás de todos da região para matá-los e beber seu sangue. Porém, conforme ela chegava desesperada nos locais e tentava avisá-los, era apenas tratada com indiferença e chamada de maluca. "Como o Sabbat entraria numa região protegida pela Camarilla?" "Como matariam tantos sob a guarda do príncipe?" "Como nenhum de nós ouviu falar de algo sobre isso?" E tantos outros questionamentos duvidando de sua sanidade e de suas intenções foram ouvidos por Umbra. O resultado foi a morte de todos que não acreditaram nela pelas mãos do Sabbat.

Seu objetivo agora, sua última esperança, é chegar à cidade de Concórdia e avisar os vampiros de lá, com fé de que dessa vez ela será ouvida. Porém, no momento em que corre em meio ao milharal, após seu carro ter quebrado no meio da estrada, sua principal preocupação é imediata: A Fome. Quando sai do meio do milho, ela avista uma mulher saindo de uma casa a uns 50 metros dali. Ela se despede de quem quer que seja, e se dirige a seu carro estacionado ali próximo, correndo para se molhar o mínimo possível. Umbra, furtiva, se esgueira pela rua mal iluminada, utilizando as árvores como proteção, e consegue surpreender a mulher, transformando-a em sua presa. Após sugar o sangue da vítima, deixa-a desmaiada em meio a rua, pega seu carro e parte para a cidade de Concórdia.

***

No centro de Concórdia, num dos prédios mais altos da cidade, a vampira prostituta Lucinda Lust aguarda, deitada no sofá de seu apartamento, um de seus clientes mais fieis. Logo, sua campainha toca e quem ela esperava entra em seu apartamento: William, seu mais fiel cliente, especialmente em tempos como estes, onde um vírus se espalha entre os humanos, matando milhões ao redor do mundo, dificultando ainda mais a vida dos vampiros, que precisam caçar suas vítimas todas as noites para saciar a Fome.

William não é só um cliente de Lust, mas um amigo também. Existe confiança mútua entre os dois, mas mais da parte de William, que já contou tudo sobre seu passado para Lust, enquanto esta o usa como alimento, sem que ele saiba, todas as noites que se encontram.

Ambos passam aquela noite juntos.

***

Umbra se aproxima da cidade de Concórdia com o carro que "pegou emprestado". Ao longo de seu trajeto, saiu da pista várias vezes, devido ao seu estado mental de estresse, preocupação e ansiedade. Infelizmente, ela não reparou quando entrou no carro, mas ele estava quase sem gasolina, e o relativamente longo trajeto que fez acabou com a última gota de combustível no veículo. Ela joga o veículo no acostamento quando vê que não terá escapatória além de fazer seu caminho a pé dali em diante.

No mato ali próximo, dormindo sob a proteção de algumas árvores, o vampiro Anael ouve um barulho alto que vem da rodovia. Preocupado devido a já ser de madrugada e também por não ser comum muito movimento na região, ainda mais num dia de tempestade, ele se levanta e vai dar uma olhada.

Conforme um se aproxima do outro, o cheiro de sangue vampírico vai ficando mais evidente para ambos, até que se encontram na beirada da estrada. Umbra mal acredita em seu sorte de encontrar um dos vampiros que vive ali dessa forma, já que não fazia ideia de onde começar a procurá-los. Ela conta tudo o que aconteceu a Anael, explicando que eles têm, basicamente, essa noite para se preparar, pois na noite seguinte o Sabbat certamente chegará a cidade e exterminará os vampiros que vivem ali.

Anael, crente que Umbra fala a verdade, conta que sabe que existe apenas mais uma vampira na cidade, e sabe que ela atua como prostituta, embora nunca tenha a visto e nem mesmo saiba seu nome ou algo que possa ajudar. Com essa única informação, ambos partem para o centro da cidade correndo, se escondendo nas sombras da madrugada e no ofuscamento da chuva, que agora já cai mais calma. Lá, conversam com outra prostituta e investigam locais comuns de prostituição na cidade, a fim de conseguir alguma informação sobre onde encontrar a dita outra vampira.

Demora um pouco, mas finalmente conseguem uma informação sólida que os leva a combinar um encontro com Lust, que deixa William dormindo em seu apartamento, pega emprestada sua moto, e se dirige a um local previamente estabelecido para encontrar as misteriosas figuras. Chegando lá, ela confirma sua hipótese de ambos serem vampiros, e ouve a história de Umbra.

Os três vampiros ficam bastante preocupados e sem saber o que fazer. Tentam contatar seus mentores, mas sem sucesso. Sem ter para onde correr, Lust pede que ambos confiem nela e volta para seu apartamento, dizendo a William que precisará de um esconderijo e de proteção para ela e dois amigos. William acha estranho, mas sua confiança e sentimento por Lust fala mais alto, e ele aceita usar sua casa como abrigo para os três.

A casa de William, que fica num bairro pobre e com alta criminalidade, mas afastado do centro da cidade de Concórdia, é praticamente dominado por William e seus empregados, que ganham a vida com o tráfico não só ali, mas em toda a região. William, a pedido de Lust, entra em contato com diversos de seus capangas e consegue treze homens para proteger a entrada do bairro na noite seguinte, embora Lust não detalhe exatamente o que está acontecendo, apenas que os três ali correm perigo de vida.

***

O dia amanhece, e os três vampiros utilizam dois quartos da casa de William para dormir. Umbra e Anael dormem no quarto de visitas, com o último preferindo deitar no chão mesmo, e Lust dorme no quarto de William. O humano passa o dia fazendo seus negócios e acertando as coisas para aquela noite também.

Após almoçar, William retorna para casa e encontra os três dormindo ainda. Algo o compele a chegar mais perto e observar com mais atenção os estranhos em sua casa. Ela percebe que Umbra dorme completamente coberta, embora seja um dia bem quente lá fora. Ele retira a coberta de seu rosto e sente a pele absurdamente gélida de sua hóspede. Ele tenta fazer o mesmo com Anael, e percebe a similaridade, sendo que este também apresente orelhas felinas. Vai até o quarto de Lust e é exatamente a mesma sensação. Intrigado, William pesquisa na internet sobre isso, e é levado consequentemente a diversas páginas que falam sobre o ser mitológico do vampiro. Não acreditando no que está lendo, e vendo as diversas coincidência entre o que lá está escrito e as coisas que já presenciou entre os outros três, ele resolve fazer um teste.

William se dirige até o quarto onde Umbra e Anael dormem, e abre de leve a cortina, deixando o sol do início da tarde penetrar numa fresta, incidindo diretamente sobre o rosto de Umbra. Esta desperta num susto de seu sono, saltando da cama com um grito ao perceber a pele da sua face queimando e derretendo. William pede desculpas, sem saber muito bem o que fazer, e sai correndo do quarto e da sua casa. Umbra se tranquiliza, usando seu próprio sangue para curar as feridas, e volta a dormir.

Por volta das 6 da noite, os vampiros acordam praticamente todos juntos. Umbra aproveita que William ainda não chegou em casa e conta aos outros o que aconteceu durante o dia. Anael e Umbra insistem que Lust encante o rapaz para que ela esqueça de tudo, mas quando William chega, Lust o chama até o quarto e conta a ele toda a verdade sobre ela e seus outros dois companheiros. William fica muito preocupado, principalmente porque Lust avisa que quem está atrás dela são outros vampiros bastante perigosos.

William e Lust vão juntos até a casa da família dele, onde Lust acaba sendo necessária, com seu poder de encanto e convencimento, para obrigar todos a fugir do bairro e se abrigarem num hotel no centro da cidade, pois William teme que o pior possa acontecer.

Conforme a noite passa, os vampiros, inquietos, esperam que os humanos sejam suficientes para deter os vampiros do Sabbat, que, de alguma forma, segundo os relatos de Umbra, parecem ser capazes de saber exatamente onde os outros vampiros das cidades que invadem estão.

Por volta da meia-noite, William recebe uma ligação de um de seus capangas, mas ao atender não ouve nada no outro lado da linha, pois a ligação cai rapidamente. Alguns minutos depois, ouvem um grito no centro do bairro, que logo é abafado, tão repentinamente quando ressoou. Eles sabem que o Sabbat se aproxima.

William fica a postos com um fuzil apontado para a porta de sua casa, mas de nada adianta. O ambiente começa a ficar frio de forma abrupta, e uma sombra se materializada atrás do humano, que treme de frio e, talvez, de medo também. Um vampiro de aparência velha, mas com uma forte presença, se revela. Ele é careca, possui uma longa barba branca e aparenta ter sido do clã nosferatu quando ainda fazia parte da Camarilla. Sarcasticamente, ele acaricia a pele do humano a sua frente, enquanto revela-se impressionado com a capacidade dos vampiros terem se unido não só entre eles, como com um humano, para se protegerem. Algo que ele não viu nas outras cidades da região.

Lust tenta salvar William, assim como Umbra, mas o vampiro a frente delas revela ter uma força muito maior que qualquer coisa que já viram. Umbra é atirada do outro lado da casa, caindo sobre a mesa da cozinha e quebrando-a. Ela nem consegue se levantar e é surpreendida por um outro vampiro, também careca, mas aparentemente mais novo. Ela já os conhece de seu último encontro, e este parece estar muito irritado com ela, levantando-a pela gola e batendo-a repetidas vezes contra a parede, após revelar que o vampiro que ela matou no dia que invadiram a cidade dela era irmão dele.

Logo, mais dois vampiros entram na casa, uma mulher que sorri ao ver uma toreadora, já que também fazia parte desse clã antigamente, e um outro vampiro mais novo em aparência, que não fala uma só palavra e fica na porta, meio que de guarda.

William é jogado no sofá pelo vampiro que aparenta ser o líder do grupo, enquanto este explica que só estão ali porque o príncipe permitiu. O humano vê a oportunidade para atirar em alguém, e mira no vampiro desatento na porta de sua casa, que leva dois tiro no rosto e acaba se afastando. Seu ato impressiona ainda mais o ex-nosferatu, que também dirige um sorriso a William.

Lust questiona tudo o que está acontecendo, e o vampiro conta, aparentemente feliz por estar tendo essa oportunidade, sobre o príncipe ter feito um trato com eles. Deveriam invadir a região, matar todos os vampiros que quisessem e beberem seu sangue, e em troca deveriam levar um vampiro de cada cidade ao príncipe, embora, segundo eles, não saibam qual seja a intenção do príncipe com esses vampiros que seriam entregues a ele.

Após acalmar o vampiro que estava espancando Umbra, o líder do grupo chama a todos e sugere uma proposta: ele confessa ter um documento oficial da Camarilla, entregue a eles pelo próprio príncipe, que pode servir para incriminá-lo, provando que este fez um trato com um grupo do Sabbat para matar diversos vampiros que, na verdade, ele deveria proteger. Porém, ele também aponta que os três quebraram a Máscara por utilizar um humano para protegê-los, e debocha deles por isso, apontando que se os três não darem o primeiro passo contra a Camarilla, certamente o próprio príncipe dará um jeito de caçá-los.

Sendo assim, ele entrega o documento a Lust e diz que ali tem o suficiente para derrubar o príncipe se utilizado de maneira correta. Porém, ele quer que eles deem um jeito de tomar o domínio da região, de modo a se tornarem um fornecimento de vampiros seguro ao grupo do Sabbat, que agora teria que voltar a suas caçadas para se alimentar, já que Concórdia era a última cidade da lista. Caso façam isso, esse grupo do Sabbat conseguiria se estabelecer tranquilamente por ali, vivendo oculto sob a proteção da nova liderança da região, e não precisariam mais arriscar suas vidas caçando vampiros.

Os personagens se veem num grande dilema: não podem ir contra o Sabbat, pois só poderiam recorrer ao príncipe, e este descobriria que havia alguma coisa de errado por eles estarem vivos, e provavelmente logo descobriria sobre a quebra da Máscara, resultando na morte de todos; porém, ao obedecerem o Sabbat, embora isso lhes dê a chance de permanecerem vivos, terão que desrespeitar todas as regras da Camarilla, fornecendo seus próprios companheiros, provavelmente seus próprios futuros filhos, como alimento ao Sabbat.

Lust vê a oportunidade de derrubar o príncipe, uma de suas ambições, para tomar seu lugar, e aceita impulsivamente os termos do Sabbat. O líder diz que voltarão em 30 noites para verificar a situação, e que qualquer coisa que não os agrade resultará em consequências mortais para todos ali.

O Sabbat vai embora rapidamente, e o grupo, ainda atônito e confuso com os acontecimentos, pega o documento a eles entregue e abre. Se deparam com um documento oficial da Camarilla, pertencente somente ao príncipe, com informações detalhadas sobre todos os vampiros da região, inclusive eles mesmos. Grande parte daqueles nomes são apenas memória, já que foram assassinados pelo próprio Sabbat. Mas além desse documento, que pode ser usado como prova para destronar o príncipe, junto a ele há também um mapa da região. Neste mapa, um desenho sobre a cidade de Concórdia chama a atenção: um chafariz, desenhado a mão pelo próprio Sabbat, um ponto icônico no centro da cidade, é acompanhado de um termo que não é familiar a nenhum deles: O Suspirante.

Fim da sessão

domingo, 19 de maio de 2019

Os Cavaleiros de Riverwatch [1: Alianças/Amizades] - Parte 2


O jantar daquela noite não foi dos melhores. Na verdade, os jantares do final do mês nunca eram muito bons, pois consistiam apenas de sobras. Todo início de mês, as provisões chegavam de Riverwatch, junto com mensagens de nossos familiares e ordens de nossos superiores. Amanhã seria o dia.
            Mastigando e engolindo com esforço a carne dura, eu jantei com a cabeça baixa e não pronunciei uma palavra sequer com meus companheiros. A imagem da sombra no meu quarto não saia da minha cabeça.
            Eu ainda estava sonolento, e as luzes fracas das tochas tremeluzindo com o vento embaçavam minha visão e faziam parecer que eu estava sonhando acordado. Levantei a cabeça ao ouvir um dos Cavaleiros de Riverwatch dizer algumas palavras sobre oração e vigia. Alguns dos garotos se levantaram e foram para um pequeno santuário dedicado a Kellos, que ficava no centro da fortaleza.
            Kellos era cultuado por praticamente todos os guerreiros de Terrinoth, e nós o chamávamos de deus. Porém, ele não era como os deuses élficos lendários, que criaram o mundo e as raças, e que tinham poder sobre inúmeras coisas. Kellos já fora um humano. Os livros de história falavam dele e de seu heroísmo durante a Segunda Escuridão. A cidade de Vynelvale, logo ao sudeste de Sundergard, tinha um grande monastério dedicado a ele, e muitos devotos de toda Terrinoth faziam procissões a pé por incontáveis distâncias até a cidade sagrada.
            Eu não era muito religioso, mas respeitava Kellos e admirava seus feitos heroicos. Quem sabe um dia eu fizesse dez por cento do que ele fez, e conhecesse metade das coisas que ele conheceu. Mas, por enquanto, eu apenas iria fazer meu dever e vigiar o sul da fortaleza novamente, mais uma noite.
            Após lavar meu rosto para despertar mais um pouco, subi pela mesma escadaria que tinha descido mais cedo, acendendo novamente algumas tochas que já tinham se apagado com a força do vento. A chuva não dava sinais que iria parar, e agora se ouviam trovões à distância. Minha vigia era apenas simbólica, pois eu mal conseguia ver dois palmos a minha frente sem a luz da lua e com a chuva impossibilitando que as tochas lá embaixo ficassem acesas. Vez ou outra, um relâmpago iluminava a floresta à frente e eu via uma paisagem sinistra se revelar de relance diante dos meus olhos, apenas para se apagar novamente em instantes.
            E assim se seguiu a noite. Ninguém apareceu para conversar, como já seria de se esperar, e, quando eu estimei que já teria se passado um quarto da madrugada, a chuva começou a acalmar, e a tempestade estava se distanciando para o oeste cada vez mais.
            Não demorou muito para que eu ouvisse uma voz me chamando, e um de meus colegas trocasse de turno comigo. Apenas agradeci e segui para meu quarto. Estava morrendo de sono.
            A umidade era quase palpável dentro das paredes de pedra. Depois de tanto tempo seguido de chuva, ia demorar uns dias para que tudo secasse e voltasse ao normal. Os lençóis da minha cama estavam meio úmidos, mas não tinha muito o que fazer. Eu suspirei, me despi, deixando apenas a roupa de baixo, e deitei.
            Apesar de estar cansado, acordei algumas vezes durante a noite. Não me lembro de ter tido pesadelos, mas despertava com uma sensação ruim. Toda vez eu lembrava da sombra, mas, ao olhar em volta, tudo estava normal. Acabei me convencendo que estava ficando paranoico, e finalmente consegui dormir em paz.
            Quando abri os olhos na manhã seguinte, a luz do sol entrava pelas frestas da janela. Fiquei contente ao ver o tempo limpo de novo. Me espreguicei enquanto permanecia na cama, com um pouco de preguiça de levantar. Mas, então, lembrei que hoje chegariam as cartas de Riverwatch, e saltei rapidamente da cama, me vestindo e disparando em direção ao salão principal. Fazia quase seis meses que não falava pessoalmente com meus pais, e eu estava ansioso para saber se tudo corria bem. Eles mandavam uma carta simples todo mês, apenas para que eu ficasse tranquilo, e eu sempre respondia algo também, apenas para que soubessem que tudo continuava normal por aqui. Nós apenas podíamos nos ver de seis em seis meses, quando alguns eram liberados da fortaleza para visitar suas famílias brevemente.
            Entrei no salão e avistei algumas cartas espalhadas sobre a mesa, e alguns garotos nos cantos lendo as que tinham recebido. Eu me apressei e comecei a procurar alguma que estivesse endereçada a mim, mas não conseguia encontrar.
            “Acho que você está procurando isso”, disse a voz de Sir Shaldorth atrás de mim. Me virei e dei de cara com sua mão estendida segurando a carta que eu estava procurando.
            “Senhor, por favor, não faça mais isso. Eu fiquei muito preocupado quando não encontrei a carta.” Tentei forçar um sorriso, para não parecer bravo.
            “Segurei sua carta porque precisava falar com você. Vamos até meu aposento.” Ele estava bastante sério.
            “Aconteceu alguma coisa, senhor?” Comecei a abrir a carta dos meus pais bem devagar, enquanto estudava o rosto de Sir Shaldorth. Suspeitei que ele também tivesse recebido uma carta, mas que não tivesse gostado muito do conteúdo dela. De certo modo, eu estava certo.
            Ele virou as costas e começou a se dirigir para seu aposento. Eu o segui enquanto lia a carta de meus pais. Tudo estava bem, graças aos deuses, mas meu pai falou que havia rumores de conflitos no norte, próximo a região da Fronteira. Eu estremeci. As terras além da Fronteira eram a região onde se suspeitava que os dragões estivessem se escondendo após sua fuga, tramando algo desde então, para finalmente destruírem Terrinoth e tomarem a última runa dos elfos. Meu pai não soube dizer o que era, e nem quem estava envolvido.
            O silêncio de Sir Shaldorth estava me incomodando, e eu resolvi tocar no assunto para jogar conversa fora.
            “Meu pai parece estar preocupado com algo acontecendo perto da Fronteira.” Sir Shaldorth continuou quieto. Foi apenas quando nós dois entramos em seu aposento e a porta atrás de nós se fechou que ele começou a falar.
            “O governador de Riverwatch mandou uma carta para nós, Cavaleiros. Na verdade, eles receberam um pedido de ajuda de uma das torres da Fronteira.” As torres da Fronteira eram pequenos postos avançados mantidos por humanos, anões, orcs e gnomos. Haviam sete delas, e sua missão era evitar que qualquer coisa além da Fronteira entrasse em Terrinoth. Era um trabalho parecido com o que fazíamos em Sundergard, mas lá era um pouco mais complicado, e os patrulheiros escolhidos eram só os melhores guerreiros das nossas terras.
            “A torre I capturou um goblin das tribos além da Fronteira.” Continuou Sir Shaldorth. “Ele estava tentando se infiltrar em Terrinoth para conseguir informações. Eles torturaram a criatura e ela confessou que estão planejando uma invasão liderada por ninguém mais ninguém menos que o próprio rei goblin, o infame Splig. Eles deram graças aos deuses por terem conseguido essa informação a tempo, pois se não seriam dizimados. Os goblins pretendiam se esgueirar por uma região ao sul da torre I, onde atravessariam o Rio Lotham com suas hordas e tomariam as duas torres do sul assim que baixassem a guarda. Os goblins não sabem que seu espião foi capturado, pois os patrulheiros o convenceram a escrever uma carta dizendo que está tudo correndo normalmente e enviar para seus superiores. Ao que tudo indica, as hordas virão em sete dias. Eles precisam de ajuda para fortalecer suas defesas e pegar os goblins de surpresa.”
            Eu mal conseguia respirar. Em toda minha vida, aquela era a primeira vez que um conflito estava acontecendo de verdade em Terrinoth. Bem, ele ainda iria acontecer, na verdade. Meu pai estava certo em relação aos rumores, mas não pude deixar de pensar que, se até meu pai já tinha ouvido falar, o que impedia os goblins de não terem alguém informando eles também.
            “Mas, senhor, por que está me contando tudo isso? Não é um assunto confidencial?” Perguntei, ainda atônito com as informações e com mil coisas passando por minha cabeça.
            “Regg, acho que você vai realizar seu sonho de conhecer Terrinoth um pouco antes do que pensava. Eu preciso mandar alguém competente de Sundergard para ajudar. Eu não posso ir, preciso supervisionar os garotos que estão sob minha responsabilidade. Os outros Cavaleiros também. Você é um dos mais velhos e mais experientes dentre os que ainda não são cavaleiros, então já mandei uma carta de volta ao governador dizendo que você irá.”
            “Espere, só uma pessoa? Como eu sozinho serei capaz de ajudar os patrulheiros?”
            “Mais pessoas estão vindo, você irá conhecê-las em breve. Além disso, os patrulheiros da torre II irão se deslocar para reforçar o sul da torre I. Você também não conhece os magos. Eles são muito poderosos e valem por dezenas de goblins com adagas. E os goblins não têm feiticeiros para ajudá-los, não agora que a magia se perdeu em Mennara. Esse não vai ser um combate de números, mas de inteligência. Os goblins estão confiantes, e vão quebrar a cara. Você aprenderá muito com essa viagem.”
            “Mas se a magia se perdeu em Mennara, como ainda temos magos lutando ao nosso lado?” Eu não estava entendendo, como ainda existiam pessoas capazes de usar magia, se as runas tinham sido tomadas pelos dragões?
            “Eu não sou a pessoa mais adequada para explicar esses assuntos de magia, Regg, mas já vi esses homens e mulheres em ação. Pelo que ouvi dizer, alguns conseguem retirar energia da runa restante que está com os elfos, por mais que ainda esteja longe, pois estudaram muito para desenvolver essa habilidade; enquanto outros têm como fonte de poder algum artefato. A questão é que apenas os que são feiticeiros natos não conseguem mais acessar a magia, por isso não precisamos nos preocupar tanto com raças tribais, que dependem totalmente de sua linhagem sanguínea para utilizar feitiços.”
            Sir Shaldorth esclareceu um pouco minha dúvida, mas eu ainda não acreditava que seríamos capazes de lutar contra hordas de goblins em menor número. As histórias diziam que eles lutavam até a morte e eram muito determinados. Mas a história acabara de ser contradita quando Sir Shaldorth contou sobre a traição de um deles, então eu preferi não mencionar isso.
            “Quando devo partir?” Foi apenas o que consegui dizer.
            “Amanhã de manhã um barco virá de Vynelvale. Ele trará dois de seus companheiros de viagem. Vocês imediatamente seguirão sozinhos até a torre I, pois não podemos chamar atenção. Terrinoth não está preparada para lidar com um conflito ainda, e não podemos arriscar que traidores levem informações para os goblins.”
            Assenti com a cabeça. As coisas ainda não estavam claras. Até algumas horas atrás, eu mal imaginava que um dia conheceria outro lugar que não fosse Riverwatch ou Sundergard, e agora eu estava partindo numa missão importantíssima para a Fronteira.
            Sir Shaldorth percebeu que eu precisava refletir, e pediu para que eu fosse descansar. Eu estava liberado do meu turno de vigia por hoje. Só os deuses sabiam quando eu faria um turno de vigia de novo.
            Eu saí do aposento de Sir Shaldorth e comecei a me dirigir para meu quarto. Mal tinha acordado e já precisava deitar de novo. Eu queria escrever uma carta para meus pais tranquilizando-os. Não iria falar sobre minha missão, apenas ia fingir que tudo continuava o mesmo.
            Quando abri a porta do meu quarto, tudo parecia escuro. A manhã lá fora estava clara, e o sol ainda deveria estar entrando pelas frestas da janela. Mas tudo estava tomado por uma sombra. A sombra começou a se mover, deslizando sobre as paredes e indo parar num ponto à frente da minha cama, diante de onde eu estava parado, ainda com a mão na maçaneta da porta, com medo de dar um passo adiante. Uma silhueta se formou diante de mim, e dessa vez eu pude perceber que não era apenas um vulto. Era uma forma feminina. Era possível distinguir seus cabelos longos, como se estivessem esvoaçando com a brisa. Porém, ainda era uma silhueta, e eu não podia ver seu rosto ou seus detalhes. Ela estava de joelhos no chão, e por um momento parecia que não sabia onde estava, e não tinha notado minha presença. Mas de repente ela moveu sua cabeça e, por mais que não pudesse ver seus olhos, eu sabia que estava olhando para mim. Eu não consegui mover nenhum músculo, e não sei quanto tempo fiquei naquela posição, apenas fitando a criatura à minha frente.
            De repente, tudo passou. O sol estava entrando novamente pelas frestas da janela, e as coisas estavam do jeito que eu tinha deixado no quarto. Não havia nenhum sinal da sombra. Dessa vez, eu sabia que não tinha sido só uma ilusão ou um pesadelo, ela era real, mas eu não sabia o que ela era.
Aquela foi a segunda vez que a vi.

sábado, 18 de maio de 2019

Amor, Morte & Robôs - Resenha

Amor, Morte & Robôs é uma animação original da Netflix que apresenta uma antologia de ficção científica que trata, basicamente, dos temas citados no próprio título, com ênfase em robôs.

Numa antologia, geralmente há episódios que você gosta e outros nem tanto. Mas aqui não é o caso. Os episódios curtos e diretos fazem com que mesmo as histórias mais chatas no papel despertem nossa curiosidade. É o tipo de série que você assiste do primeiro ao último episódio num só dia.

Enquanto "A Vantagem de Sonnie", "Sugador de Almas" e "A Guerra Secreta" usam de violência extrema, outros episódios, como "Os Três Robôs", "Quando o Iogurte Assumiu o Controle" e "Histórias Alternativas" se apoiam no humor negro para contar suas histórias, que nesse caso funciona também como crítica ao nosso modo de sociedade.

Meu episódio favorito foi "Para Além da Fenda de Áquila", mas "A Guerra Secreta" seria o episódio que eu escolheria se pudesse votar em expandir uma das dezoito histórias apresentadas nessa série.

Outra coisa legal dessa série, foi que descobri vários escritores que não conhecia ao pesquisar quem tinha escrito as histórias, como John Scalzi, Alastair Reynolds, Marko Kroos, Joe R. Landsdale, e isso me deu bastante histórias novas para ler.